Superman – James Gunn comprova que o legado do azulão é atemporal

De início, a escolha de inaugurar o novo Universo DC (DCU) nos cinemas com um filme do Superman parece ser bem óbvia: foi o primeiro herói da editora nos quadrinhos e estava há pelo menos 12 anos sem um projeto próprio nos cinemas, perfeito para ser o responsável por esta introdução. Porém, logo nos primeiros minutos de filme, James Gunn mostra que esse universo já está consolidado, afinal os meta-humanos existem há 300 anos e o mundo já está familiarizado com aparições de heróis e monstros no cotidiano. Nós não seremos conduzidos para mais uma história de origem do herói, e sim para outro evento importante na sua jornada: a sua primeira derrota.

Afinal, o legado do personagem é conhecido pelos fãs de todas as gerações, seja pelo Superman de 78’ ou pela recente série Superman & Lois. O filme desde o seu material de divulgação já supõe que o público saiba o básico do personagem e de sua ambientação, permitindo essa homenagem ao legado, ao mesmo tempo que traz autenticidade e temas atuais a ele, permitindo um maior desenvolvimento para essa nova história do azulão.

Para aqueles que insistem em dizer que heróis e política não se misturam, o filme já desbanca esse discurso ao mostrar que há 3 semanas o herói impediu uma guerra entre a nação fictícia Borávia, aliada dos Estados Unidos, e um indefeso país – também fictício – chamado Jarhanpur, onde os habitantes usam ancinhos e enxadas para se defender (um conflito bem semelhante ao que a humanidade está presenciando entre Israel e Palestina). A trama se desenrola a partir disso, com Superman (David Corenswet) tendo suas ações questionadas pelos cidadãos e pelo governo americano – sendo um prato cheio de munição para o bilionário Lex Luthor (Nicholas Hoult) tirar proveito da situação e manchar a reputação do escoteiro.

DC Studios
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Como dito anteriormente, o filme já supõe que você conheça personagens que são intrínsecos ao legado do personagem, no entanto o show de atuações do elenco dá a esses personagens visões autênticas, sem perder a essência. O Luthor de Nicholas é sem dúvida a melhor adaptação live-action do vilão. Além de ser aquele bilionário que quer acabar com o alienígena em nome da humanidade, ele se mostra extremamente maligno e obcecado (num nível que beira a psicopatia), porém não movido pela raiva, e sim pela inveja, fazendo sua vida girar em torno de acabar com o Superman.

Em contraponto, temos a determinada Lois Lane (Rachel Brosnahan), que se encontra em um relacionamento um pouco complicado com o herói (aqui ela já conhece sua identidade secreta), onde ela estranha o fato de ele ser extremamente gentil e acreditar em todo mundo, enquanto a própria aprendeu que se deve desconfiar de tudo e de todos. Mesmo não concordando com algumas ações dele, ela segue ao seu lado nessa jornada, onde presenciamos um show de química entre Rachel e David, entregando um casal com momentos de carinho e afeto, mas também de entrevistas calorosas e sérias.

DC Studios
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Essas relações são muito bem exploradas graças a visão de Gunn do personagem e a atuação de David. Enquanto o Superman de Richard Donner era aquele herói romantizado e o de Zack Snyder a idealização de um messias, aqui temos um Superman mais focado no Homem ao invés do Super. David entrega um Superman gentil, empático, que salva até um esquilo em apuros, mas também confuso sobre o seu lugar, com medo e até um pouco ingênuo, onde sempre busca a alternativa de salvar a todos, sejam inocentes ou monstros.

Esse diferencial fica evidente quando vemos a Gangue da Justiça, a equipe formada pelo Sr. Incrível (Edi Gathegi), o Lanterna Verde Guy Gardner (Nathan Fillion) e a Mulher-Gavião (Isabela Merced), que são mais realistas em fazer de tudo para acabar com ameaças – com exceção de posicionamentos políticos. Apesar de serem coadjuvantes, cada um tem seu momento próprio para movimentar a trama sem tirar o foco do protagonista, assim como Jimmy Olsen (Skyler Gisondo) e Perry White (Wendell Pierce), que movimentam a trama do Planeta Diário ao lado de Lois, e a Engenheira (María Gabriela de Faría), Eve Teschmacher (Sara Sampaio) e o enigmático Ultraman, que são os peões de Luthor na luta contra o Superman. A quantidade de personagens parece exagerada, mas o roteiro consegue deixar a participação de todos bem dinâmica.

A ação do filme não está apenas nas cenas de luta com o Superman e o seu cachorro Krypto (que rouba a cena sempre), mas também nos diálogos dos personagens, que debatem sobre propósito, identidade e, acima de tudo, o que é ser humano. Tudo isso com uma direção colorida e grandiosa, que entrega cenas que parecem tiradas das histórias em quadrinhos, te deixando totalmente imersivo no ambiente, como se fosse um drone sobrevoando Metrópolis enquanto mais algum “problema” assola a cidade.

DC Studios
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A sensação ao sair do cinema após o filme é de satisfação. Satisfação por ter pessoas por trás do projeto que realmente conhecem o Superman e o respeitam, mantendo seu legado e sua essência. Você tem um Superman que pode voar e soltar laser pelos olhos, mas também um Superman que sente medo, que tem conflitos internos, que se apaixona, que tem pais extremamente orgulhosos dele, que sempre se enxergava sozinho até então e que acorda todo dia tentando ser a melhor versão de si mesmo. Temos um Superman que, mesmo sendo um alienígena imigrante de um planeta destruído, sabe mais sobre ser humano do que o bilionário que fornece armas para uma guerra. E a satisfação maior nisso tudo é saber que as crianças da nova geração vão crescer tendo o herói como o grande símbolo de empatia e esperança.

No fim, também há a satisfação de nós, fãs, de presenciarmos esse novo universo começando com o pé direito. Superman, assim como o próprio personagem, é a esperança de que os personagens da DC Comics amados por todos nós estão em ótimas mãos. Olhando para cima, o futuro do DCU é brilhante.

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